Você sabe o que é um Hidrograma Unitário Geomorfológico (HUG)?

Quando falamos de drenagem urbana, um dos maiores desafios é compreender como a bacia reage a uma chuva — especialmente em locais sem monitoramento, onde não há séries históricas suficientes de vazão. É nesse cenário que o Hidrograma Unitário Geomorfológico (HUG) se torna uma ferramenta extremamente poderosa.

Figura 1 - Discretização da área em estudo em elementos hidrológicos urbanos.

🔍 O que é o HUG?

O Hidrograma Unitário Geomorfológico é um tipo de hidrograma unitário que traduz a resposta hidrológica da bacia a partir de suas características geomorfológicas — isto é, sua forma, estrutura, rede de drenagem e caminhos naturais (ou urbanos) de escoamento. Diferente dos hidrogramas sintéticos tradicionais, que usam fórmulas generalistas, o HUG usa a geometria da bacia como base do modelo.

Em outras palavras:

O HUG não nasce de dados medidos, mas da própria “arquitetura” da bacia.

Figura 2 - Características de um Hidrograma Unitário

🛰️ Como ele é obtido?

No estudo da sub-bacia urbana do Ribeirão das Pedras (Campinas-SP), o HUG foi obtido a partir de um Cadastro Técnico Multifinalitário (CTM) — um banco de dados geoespacial que descreve ruas, lotes, rede de drenagem, declividades, impermeabilização, entre outros elementos.

A metodologia consiste em:

1. Mapeamento geométrico detalhado da bacia usando CTM

2. Discretização do território em Elementos Hidrológicos Urbanos (EHUs).

3. Modelagem do escoamento sobre superfícies e pela rede de drenagem.

4. Cálculo dos tempos de viagem das partículas d’água até o exutório.

5. Construção do Hidrograma Unitário Instantâneo Geomorfológico (HUIG).

6. Integração para gerar o HUG final.

Tudo isso sem depender de séries históricas volumosas — um grande diferencial para bacias não monitoradas.

🎯 Para que serve o HUG?

O HUG é aplicado principalmente para:

• Projetos de drenagem urbana

• Modelagem hidrológica distribuída

• Simulação chuva–vazão sem dados de monitoramento

• Avaliação de impacto de obras e urbanização

• Calibração de modelos mais complexos (SWMM, CAT, TSR etc.)

No estudo, o HUG obtido apresentou excelente aderência ao Hidrograma Unitário Médio Observado em campo — demonstrando que a geomorfologia urbana, quando bem representada, é capaz de reproduzir a dinâmica real da bacia.

🧩 Em quais situações ele é mais útil?

O HUG é especialmente indicado quando:

✔ Não há dados de vazão (bacias não monitoradas)

✔ A morfologia urbana muda rapidamente

✔ A área é pequena e muito impermeabilizada

✔ É necessário detalhamento fino dos percursos de escoamento

✔ O objetivo é entender o comportamento hidrológico antes mesmo de instalar sensores

Ou seja: é uma ferramenta estratégica para planejamento urbano, drenagem municipal, loteamentos e estudos de impacto.

📌 Por que ele importa para a engenharia moderna?

Com o avanço do SIG, LiDAR e CTM, entender a hidrologia urbana deixou de ser apenas medir vazão — e passou a ser modelar o comportamento da cidade.

O HUG:

• aproveita bancos de dados já existentes,

• reduz custos de monitoramento,

• aumenta a confiabilidade de modelos urbanos,

• e antecipa a resposta hidrológica de forma física e espacialmente coerente.

No mundo cada vez mais urbanizado, ferramentas geomorfológicas como o HUG são parte indispensável da engenharia de drenagem do futuro.

🔗 Para se aprofundar

Para aprofundamento, recomendo três obras diretamente relacionadas ao tema:

📘 Drenagem Urbana (TUCCI)

Referência fundamental para modelagem hidrológica e hidráulica aplicada a cidades.

📗 Técnicas Compensatórias em Drenagem Urbana (MARCIO BAPTISTA)

Excelente para compreender como soluções baseadas na natureza alteram a resposta hidrológica da bacia.

📙 Modelos Hidrológicos – Métodos e Aplicações (TUCCI)

Base teórica indispensável sobre modelos chuva–vazão, hidrogramas unitários e teoria hidrológica.

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📌 Conclusão

Modelos geomorfológicos como o HUG ampliam a capacidade de previsão hidrológica em áreas urbanas altamente dinâmicas, permitindo que a engenharia utilize a própria morfologia da bacia como fonte primária de informação. A abordagem é especialmente vantajosa em cidades que já possuem CTM bem estruturado, como universidades, municípios digitalizados ou empreendimentos com levantamento cadastral detalhado.

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